segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Repercussões na Imprensa sobre a Caixa 'Gal Total'

11/10/10 - Voz e tempo
Fonte: Diário de Pernambuco - Por Ailton Magioli

Foto: Thereza Eugênia/Divulgação

Caixa Gal total, com 15 discos gravados entre 1967 e 1983, recupera momentos especiais da carreira da cantora baiana, que já se prepara para lançar novo trabalho com inéditas
     
Distante do público desde a gravação ao vivo, em CD e DVD, do show Hoje, de 2007, Gal Costa retorna ao mercado fonográfico com a caixa Gal Total, da Universal Music, que reúne 15 discos gravados pela cantora em quase duas décadas de carreira (1967 a 1983), além de um álbum duplo de raridades especialmente montado pelo curador Marcelo Fróes. Da Gracinha estreante, que dividiu Domingo com o amigo Caetano Veloso, à diva reconhecida e estabelecida na indústria, de Gal tropical, passando pelo reinado absoluto da musa do tropicalismo quando, além de porta-voz de Caetano e Gilberto Gil , em exílio londrino, melhor se posicionou pessoal e musicalmente, o talento da baiana Maria da Graça Costa Penna Burgos se expõe por inteiro no projeto.

"Me reconheço em todas as épocas. É difícil dizer qual foi a mais importante. Todas foram, cada uma no seu momento. O importante é que tudo foi verdadeiro. Foram fases que vivi, um período muito rico. E também difícil, devido ao advento daditadura militar, ao exílio de Caetano e Gil", avalia Gal Costa. Aos 65 anos, em fase de pré-produção de CD de inéditas, produzido por Caetano e Moreno Veloso, Gal comemora a maternidade com Gabriel, filho adotivo de 5 anos.

"Ser mãe, independentemente de parir ou não parir, é de um amor imenso. A gente até se parece. É uma coisa maravilhosa, uma renovação, um aprendizado diário. É uma alegria ter uma criança por perto. É a coisa mais linda do mundo, não tem nada melhor do que ser mãe", empolga-se. Gal garante que sempre fez tudo na vida mais com o coração do que com a razão. Mesmo diante da ameaça da ditadura militar, com a qual teve de conviver. "Dava medo", reconhece, lembrando que depois de resolver ficar no Brasil, acabou indo muito à Europa visitar os amigos no exílio londrino. "Na época, trazia ou eles mandavam as músicas que eu gravava", recorda.

"Era um período difícil, porque havia censura", acrescenta. A cantora lembra das ameaças recebidas até mesmo pelo jeito que se vestia e se penteava. "Verbalmente, às vezes me agrediam na rua. Me chamavam de piolhenta. Me lembro que fui gravar um curta-metragem (Meu nome é Gal, de 1970) com o Antônio Carlos Fontoura e, durante uma locação no Centro do Rio, fiquei na Kombi, enquanto ele preparava a luz". "As pessoas foram chegando, cercaram o carro. Um bando de gente que começou a me chamar de macaca, piolhenta. Havia uma coisa agressiva com a minha imagem. Não era fácil andar nas ruas", admite a cantora.

Politicamente, Gal Costa também pagou um preço. "Tive problemas com Índia. A capa (com foto de Antonio Guerreiro) foi censurada e eles autorizaram a venda do disco em um invólucro de plástico preto. Além disso, censuraram a música de Luiz Melodia (Presente cotidiano), que depois foi liberada", recorda. Já no fim da década de 1970, quando atingiu sucesso comercial, via Gal tropical, disco-show com o qual ficou um ano e dois meses em cartaz, Gal começa a experimentar fase de transformação.

"Vinha da menina hippie - Me lembro que uma vez, a jornalista Ana Maria Bahiana me chamou de hippie rica - , com aquele jeito de me vestir. Aos poucos fui me transformando espontaneamente, naturalmente. Guilherme Araújo olhou para mim e disse: Vamos fazer um show, eu tenho uma ideia. Mas olha como você se veste. É um tipo de roupa que é mais parecido com o padrão . Ele disse que me queria maravilhosa como Ava Gardner, Rita Hayworth. E aí a gente escolheu o repertório do show, enquanto ele pensava no design da roupa, que foi feita pelo Guilherme Guimarães. Fizemos o show, que foi um sucesso", acrescenta a cantora..

Gal comemora a qualidade da voz, ainda cristalina: "A minha voz está perfeita, está ótima, brilhante. Uma criança com brilho. Eu só ganhei com o tempo, não perdi nada", diz. Ela explica que mesmo com o enriquecimento do grave, devido o avanço da idade, o agudo permanece. A propósito, a cantora cita o disco Gal como aquele em que ela mais abusou do consagrado timbre, que se transformou em verdadeiro grito de guerra. "Acho que é o mais radical de todos, porque tem um ladototalmente experimental. Uso o grito como uma expressão de protesto e desabafo. Na época já dizia: é um disco intocável. Não é para tocar no rádio. Só o outro lado é para tocar no rádio", lembra. Sobre o festejado encontro com Caetano, Gil e Bethânia no grupo Doces Bárbaros, em 1976, Gal diz ser o período de que ela mais gosta. "É a coisa mais linda", afirma, derretida, a cantora. E lembra o reencontro do grupo, em 2002, quando foi gravado um DVD, depois do antológico álbum duplo de estreia.

"Nós temos uma coisa impressionante. Acho que é uma irmandade espiritual, embora cada um tenha nascido de uma família diferente. Mas a gente forma essa família espiritual, que é uma aura que nos une", conclui.

Disco a disco

Domingo (1967)

Com Caetano Veloso Com arranjos de Dori Caymmi, o disco tem canções de Caetano e Gil, além de Sidney Miller e Edu Lobo. O hit do álbum foi Coração vagabundo.

Gal Costa (1969)

Primeiro disco solo da cantora, além de Divino maravilhoso, tem Não identificado e Baby, de Caetano. O repertório inclui Se você pensa e Vou recomeçar, ambas de Roberto e Erasmo Carlos; e Sebastiana, de Jackson do Pandeiro, em dueto com Gil.

Gal (1969)

Considerado o mais psicodélico dos discos tropicalistas, marcou a fase em que a cantora se tonou porta-voz de Caetano e Gil, exilados políticos da ditadura. No repertório, pérolas como Cinema Olympia, de Caetano; País tropical, de Jorge Ben, e Meu nome é Gal, de Roberto e Erasmo Carlos.

Legal (1970)

De volta de viagem a Londres, onde visitou Caetano e Gil, a cantora trouxe na bagagem canções inéditas como London London, de Caetano, e Minimistério, de Gil. Há também visitações a clássicos de Zé Dantas (Acauã) e Geraldo Pereira (Falsa baiana).

Fa-Tal - Gal a todo vapor (1971)

Considerado o melhor disco de Gal Costa, o álbum duplo inclui um dos primeiros sucessos dos Novos Baianos: Dê um rolê. No repertório, canções do folclore baiano se misturam leituras de Geraldo Pereira (Falsa baiana) e Ismael Silva (Antonico) e a canções de Jorge Ben (Charles anjo 45), Roberto & Erasmo (Sua estupidez) e Caetano (Como 2 e 2, Coração vagabundo e Chuva, suor e cerveja). O hit foi Vapor barato, de Macalé e Wally.

Índia (1973)

Trazia no repertório clássicos como a faixa-título, e Volta, de Lupicínio Rodrigues, além de Presente cotidiano, de Luiz Melodia; Da maior importância, de Caetano; Pontos de luz, de Macalé e Wally Salomão; e Desafinado, de Tom Jobim.

Cantar (1974)

Depois de anos como diva tropicalista, Gal retoma a própria pegada neste álbum, que tem participação de João Donato. Gravou A rã e Flor de maracujá e Até quem sabe, com Lysias Ênio. E mais: Barato total, de Gilberto Gil; Lua, lua, lua, lua e Joia, de Caetano.

Gal canta Caymmi (1976)

Convidada por Daniel Filho paraprotagonizar a telenovela Gabriela, da Globo, Gal não aceitou, mas acabou gravando a Modinha para Gabriela, tema de abertura.

Gal Costa - Caras & bocas (1977)

Disco de entressafra, eclético, dançante e suingado, segundo a própria cantora. No repertório, Tigresa, de Caetano. Rita Lee, Jorge Ben e uma rara parceria de Caetano com Maria Bethânia também estão lá.

Água viva (1978)

Voltado para compositores de sua geração, o disco tem canções de Chico Buarque (Folhetim), Caetano (Mãe e A mulher), Gil (De onde vem o baião), Milton Nascimento (Paula e Bebeto e Cadê), Sueli Costa (Vida de artista) e Gonzaguinha (O gosto do amor).

Gal tropical (1979)

Estrela do verão carioca pelo show homônimo, Gal incorpora a diva. Meu nome é Gal, com acompanhamento da guitarra de Robertinho do Recife, era um dos grandes momentos do show, que gerou o sucesso carnavalesco Balancê, de João de Barro. Força estranha, de Caetano; Olha, de Roberto e Erasmo; e Juventude transviada, de Melodia, também integram o álbum.

Aquarela do Brasil (1980)

Segundo songbook da caixa, agora dedicado à obra de Ary Barroso, rendeu sucessos como Camisa amarela, Aquarela do Brasil e É luxo só. Canções das décadas de 1930 a 1960, embaladas por arranjos modernos de Perna Fróes e Roberto Menescal.

Fantasia (1981)

Depois do sucesso estrondoso de Gal tropical e Aquarela do Brasil, Gal estoura com a canção Festa do interior, de Moraes Moreira e Abel Silva. Guto Graça Mello, Lincoln Olivetti e Gilson Peranzetta assinaram os arranjos para Meu bem, meu mal, de Caetano; Canta Brasil, de David Nasser; e Faltando um pedaço e Açaí, de Djavan.

Minha voz (1982)

O disco seria originalmente intitulado Azul, por causa da canção de Djavan, mas a canção de Caetano, Minha voz, minha vida acabou responsável por batizar o trabalho, que levou Luz do sol e Dom de iludir, também de Caetano, para a trilha das novelas. Mais sucessos? Bloco do prazer, de Moraes Moreira, e Pegando fogo, de José M. de Abreu.

Baby Gal (1983)

O disco marcou a despedida de Gal do selo Philips (atualUniversal Music), depois de mais de 15 anos na gravadora. A banda Roupa Nova se responsabilizou pelas bases de sucessos como Mil perdões, de Chico; Sim ou não, de Djavan; e Baby, de Caetano.

Gal - Divina maravilhosa - 28 raridades

O álbum duplo, extra, na caixa, traz preciosidades como Dadá Maria e Bom dia, gravadas especialmente para o LP 3º Festival da Música Popular Brasileira - vol. 1, de 1967, a primeira em dueto com Renato Teixeira, a segunda com a assinatura de Gil e Nana Caymmi. Da trilha do filme Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr., há Canção da moça.

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