segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Repercussões na Imprensa sobre a Caixa 'Gal Total'

10/10/10 - Aos 65 anos, Gal Costa tem seus melhores discos relançados
Fonte: Correio Braziliense - Por Teresa Albuquerque

Foto: Thereza Eugênia/Divulgação

A grande dama da música brasileira nunca foi só uma. São muitas. Gal Costa se reconhece em todas e tem o maior orgulho delas: da menina que (re)aprendeu a cantar com João Gilberto; da moça de cabelos revoltos que gritava como Janis Joplin; da musa tropicalista que fazia discos com Jards Macalé, Lanny Gordin e Rogério Duprat; da brejeira intérprete de Dorival Caymmi; da mulher de boca vermelha que, faceira, cantava o Brasil brasileiro de Ary Barroso; da estrela coberta de paetês, que, ao lado de Lincoln Olivetti, emplacava sucessos no rádio e na tevê. “Tudo o que fiz foi verdadeiro”, afirma a cantora, que acaba de completar 65 anos (no último dia 26) e ganhar uma caixa com 15 CDs remasterizados e uma coletânea dupla de raridades. No fim do ano, vem mais: um álbum de inéditas compostas por Caetano Veloso especialmente para ela.

Gal total, a caixa que chega às lojas pela Universal Music, é uma tremenda viagem organizada pelo pesquisador Marcelo Fróes. Começa em 1967, com Domingo, o LP de estreia que ela dividiu com Caetano, e segue até 1983, com Baby Gal, que marcou sua despedida da gravadora Philips e teve o Roupa Nova como banda de base. Entre um extremo e outro, há seis discos fundamentais para entender a cantora moderna (vá lá, divina, maravilhosa) que sempre foi referência para jovens vozes femininas: Gal Costa (1969), o primeiro solo, tropicalista; Gal (1969), o psicodélico; Legal (1970), aquele da língua do pê e capa de Hélio Oiticica; Fa-tal (1971), o registro do show arrebatador dirigido por Waly Salomão; o excelente Cantar (1974), produzido por Caetano, com João Donato ao piano; e Gal canta Caymmi (1976), belo tributo ao mestre baiano.

Os títulos são os melhores da carreira que começou há 45 anos — levando em conta o compacto lançado pela RCA em 1965, ainda como Maria Graça, com Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil, de um lado, e Sim, foi você, de Caetano, do outro. “Esse compacto vendeu umas 70 cópias. E quem comprou todas foi meu ex-patrão”, ela conta, numa risada solta, lembrando os tempos em que era vendedora de loja de discos (“Eu amava aquele trabalho”) e ainda não exibia a cabeleira nem as roupas nada convencionais que lhe deram fama — e alguns problemas — nos anos 1970. “Ah, me chamavam de ‘piolho’ nas ruas, me olhavam como se eu fosse um ET.”

Olhando para o passado como uma roupa confortável — que ainda serve e ela quer usar —, Gal gosta da idade que tem e da bagagem que leva. “Me orgulho de tudo o que fiz: de cada roupa que vesti, de cada cabelo que usei, de cada canção que gravei”, afirma a cantora, que nunca teve (nem quis ter) postura militante, política, mas marcou época pelo comportamento. “Não atuei como revolucionária. Apenas vivi isso de maneira verdadeira, sendo irreverente, diferente do padrão da época. É uma coisa que está em mim, na minha maneira de ser. É o que sou.”

Agudos

Dividindo-se entre Salvador (onde mora com o filho Gabriel, hoje com 5 anos) e o Rio de Janeiro, onde grava o disco produzido por Caetano e Moreno Veloso (afilhado dela), Gal Costa sente-se jovem, cheia de energia. Diz que a maternidade a rejuvenesceu (“Era um sonho que eu tinha”) e que sua voz está plena, linda. (Modéstia para quê, a esta altura da vida?) “Minha voz é de criança, cristalina, reflete a minha alma, o meu espírito. Meus agudos permanecem, os meus graves são bonitos. Estou nova, inteira, cantando como nunca”, garante ela, que ultimamente tem feito mais shows fora do país e passado horas na internet.

Pois é, a grande dama do canto brasileiro adora jogar Farmville no Facebook. Tem uma fazenda na rede de relacionamentos, está no Twitter e garante que é ela mesma quem conversa com os fãs. “Gosto de saber o que as pessoas pensam, o que elas querem. Entro sempre (na internet), vejo os e-mails, leio jornal, ouço música, viajo, faço tudo a que tenho direito no computador. Adoro tecnologia.” De onde vem tanta modernidade? Ora. “Sou moderna porque sou moderna.”

GAL TOTAL

Caixa com 15 CDs gravados por Gal Costa entre 1967 e 1983 e uma coletânea dupla de raridades, com 28 faixas. Lançamento Universal. Preço médio: R$ 300.

Saiba mais sobre os 15 álbuns remasterizados e o CD duplo de raridades da caixa Gal Total

- Domingo (1967)

Gravado em parceria com Caetano Veloso e arranjos de Dori Caymmi, o disco – de estética bossanovista - começa com Coração vagabundo e traz mais sete canções de Caetano (Onde eu nasci passa um rio, Avarandado, Um dia, Domingo, Nenhuma dor, Remelexo e Quem me dera), além de Candeias (Edu Lobo), Minha senhora (Gilberto Gil e Torquato Neto) e Maria Joana (Sidney Miller).

- Gal Costa (1969)

Primeiro disco solo de Gal, é um clássico tropicalista. Com arranjos de Rogério Duprat, Gilberto Gil e do superguitarrista Lanny Gordin, tem cinco faixas de Caetano (Baby, Saudosismo, Não identificado, Lost in paradise e Divino, maravilhoso, esta em parceria com Gil), duas de Jorge Ben (Que pena e Deus é o amor), duas de Roberto e Erasmo (Se você pensa e Vou recomeçar). Completam o ótimo repertório o baião Sebastiana (Rosil Cavalcanti), A coisa mais linda que existe (Gil e Torquato Neto) e Namorinho de portão (Tom Zé).

- Gal (1969)

Lançado no mesmo ano do primeiro solo, Gal é mais elétrico, roqueiro e desabusado – o mais psicodélico dos discos tropicalistas. Rogério Duprat assina arranjos e direção musical. No baixo e nas guitarras, Lanny Gordin; no violão, Jards Macalé. No repertório, mais Caetano (Cinema Olympia, The empty boat), Jorge Ben (Tuareg, País tropical), Gilberto Gil (Cultura e civilização, Com medo, com Pedro, Objeto sim, objeto não), Roberto e Erasmo (Meu nome é Gal), Macalé e Capinam (Pulsars e quasars).

- Legal (1970)

Com capa de Hélio Oiticica, arranjos de base de Lanny Gordin e Jards Macalé (o pianista Chiquinho de Moraes cuidou dos arranjos de orquestra), é outro ótimo disco tropicalista. Aqui, as canções de Caetano (London, London, Deixa sangrar), Roberto e Erasmo (Eu sou terrível), Gil (Língua do P, Minimistério) e Macalé (Love, try and die, Hotel das estrelas, The archaic lonely star blues) juntam-se a Zé Dantas (Acauã) e Geraldo Pereira (Falsa baiana). Segundo Gal, é um de seus trabalhos mais “espontâneos”.

- Fa-tal – Gal a todo vapor (1971)

Registro de um show que a cantora fez no Rio, com direção de Waly Salomão, Fa-tal tem a cara daquele “verão do desbunde”. Caetano e Gil estavam no exílio em Londres, e Gal era a principal referência tropicalista, a musa da praia de Ipanema, das Dunas do Barato. Lanny Gordin assina a direção musical e as guitarras (Pepeu Gomes entrou depois). Entre as 19 faixas, duas maravilhas de Macalé e Waly Salomão (Mal secreto e Vapor barato), mais uma de Roberto e Erasmo (Sua estupidez), outra de Caetano (Como 2 e 2), Novos Baianos (Dê um role) e Luiz Melodia (Pérola negra). Excelente.

- Índia (1973)

Com direção musical de Gilberto Gil, Índia – que teve a capa censurada, por causa das fotos “ousadas” de Antônio Guerreiro -- vem de um show que Gal fez pelo Brasil e traz um time de primeira: Dominguinhos no acordeom, Toninho Horta na guitarra, Luiz Alves no contrabaixo, Roberto Silva na bateria, e Chico Batera na percussão. É um álbum de transição, que mistura temas do folclore (Milho verde), clássicos como Volta (Lupicínio Rodrigues) e Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça) e novidades como Presente cotidiano (Luiz Melodia), a melhor das nove faixas.

- Cantar (1974)

O melhor disco da cantora (ao lado de Fa-tal) tem direção de Caetano Veloso e Perinho Albuquerque e a participação de João Donato, que toca piano e assina três das 11 faixas (A rã, Flor de maracujá e Até quem sabe). Caetano também comparece com Flor do cerrado, Lua, lua, lua e Joia; Jorge Mautner e Nelson Jacobina, com Lágrimas negras, e Gilberto Gil, com Barato total. Sofisticado, primoroso.

- Gal canta Caymmi (1976)

Com arranjos de João Donato e Perinho Albuquerque, é um belo tributo ao mestre Dorival Caymmi. O CD que está na caixa Gal Total vem com uma capa diferente porque o autor da arte original não teria se entendido com a gravadora – a parte boa é que traz de volta os atabaques cortados em reedições anteriores.

- Caras e bocas (1977)

Gal tenta novos caminhos neste disco eclético, de “entressafra”, como ela mesma diz. Entre as 10 faixas, há músicas de Rita Lee (Me recuso), Jorge Ben (Minha estrela é do Oriente), Péricles Cavalcanti (Clariô) e da estreante Marina (Meu doce amor). Negro amor, a versão que Caetano e Péricles fizeram para a canção de Bob Dylan, e Tigresa, de Caetano, são os maiores acertos do disco.

- Água viva (1978)

Álbum voltado para os compositores da geração de Gal, Caras & bocas reúne Chico Buarque (Folhetim), Gilberto Gil (De onde vem o baião) e Caetano Veloso (Mãe, A mulher e Paula e Bebeto, esta com Milton Nascimento). Também traz a bela O bem do mar, de Caymmi, Vida de artista (Sueli Costa e Abel Silva) e Olhos verdes (Vicente Paiva). É bom, mas ficou meio batido.

- Gal tropical (1979)

O disco foi gravado depois de uma bem-sucedida temporada de Gal no Teatro dos Quatro, no Rio, em janeiro de 1979. Coletânea de sucessos produzida por Guilherme Araújo e Roberto Menescal, traz entre as 12 faixas Força estranha (Caetano Veloso), Estrada do sol (Tom Jobim e Dolores Duran), Olha (Roberto e Erasmo Carlos), Juventude Transviada (Luiz Melodia) e Balancê (João de Barro e Alberto Ribeiro).

- Aquarela do Brasil (1980)

O empresário e produtor Guilherme Araújo sugeriu à cantora esse tributo a Ary Barroso, com 12 faixas selecionadas por Paulo Tapajós. Camisa amarela, Aquarela do Brasil, É luxo só e Jogada pelo mundo foram os maiores sucessos do álbum.

- Fantasia (1981)

Aqui, a estrela já é outra: aparece com vestido de paetês (na foto do encarte), produzida por Mariozinho Rocha e com arranjos de Lincoln Olivetti, Gilson Peranzzetta e Guto Graça Mello. Malvista pela crítica (muito por conta dos teclados de Olivetti), Gal cai de vez nas graças do público. Com músicas de Moraes Moreira (Festa do interior) e Djavan (Faltando um pedaço, Açaí) e Caetano (Meu bem, meu mal, Massa real, O amor), o disco foi um estouro de vendas.

- Minha voz (1982)

Azul, de Djavan, foi o grande hit do disco, que ainda conta com Bloco do prazer (de Moraes Moreira e Fausto Nilo) e três sucessos de Caetano: Luz do sol, Dom de iludir e Minha voz, minha vida. Mais um produzido por Mariozinho Rocha, com arranjos de Gilson Peranzzetta, Lincoln Olivetti, Eduardo Souto Neto e... Roupa Nova.

- Baby Gal (1983)

Álbum pop que marcou a saída da cantora da gravadora Philips, depois de mais de 15 anos, Baby Gal é outro da turma de Mariozinho Rocha/ Eduardo Souto Neto/ Roupa Nova. Nos teclados, César Camargo Mariano. A regravação de Baby com a participação do Roupa Nova fez muita gente chiar, e foi a faixa que mais marcou o LP, ao lado de Mil perdões (Chico Buarque).

- Divina, maravilhosa (2010)

O CD duplo traz 28 faixas raras, algumas delas inéditas, garimpadas pelo pesquisador Marcelo Fróes nos arquivos da gravadora Universal (que detém o acervo da Philips e da PolyGram). São registros de compactos, festivais, projetos especiais, participações em álbuns de outros artistas. De 1967, por exemplo, há duas faixas gravadas para a coletânea III Festival da Música Popular Brasileira vol. 1 — Dadá Maria (em dobradinha com Renato Teixeira) e Bom dia. De 1968, um dueto com Sidney Miller, Ora , acho que vou-me embora, lançado apenas em LP do compositor (Brasil, do Guarany ao Guaraná). Outros destaques são a versão original de Vapor barato, uma Clariô mais dançante, a bela Três da madrugada (de Torquato Neto e Carlos Pinto) e três pérolas pinçadas da trilha do filme Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr.: Canção da moça, Moça de Neanderthal e Show de me esqueci. Dessas duas últimas, gravadas com Bruno Ferreira, Gal nem se lembrava mais.

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