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domingo, 17 de janeiro de 2010

1968 - Tropicália

 
 
 
 
Mutantes, Gal Costa, Jorge Ben, Caetano e Gil


1968 - Tropicália

1968 - IV Festival da Record

 
 
 
 
 
 
 


1968 - IV Festival da Record

A Estrela brilha 
Fonte: Revista Veja nº 11 - 20/11/1968 

1968 - IV Festival da Record

Fonte: Revista Veja nº 7 - 23/10/1968
Material disponibilizado por Doug Carvalho

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

1968 - Divino, Maravilhoso

O Divino Maravihoso
 

Gal Costa fala sobre sua participação no Festival da TV Record "Divino, Maravilhoso" - 29/06/2005

Naquela época convivia com todo o ambiente tropicalista. Só falávamos dos movimentos novos que surgiam no mundo. Gil ouvia Hendrix o dia inteiro. Janis Joplin não saia da minha cabeça. Aquele som, aquele rasgo de voz foi me tomando de uma forma que criou em mim uma necessidade de fazer alguma coisa diferente do que eu acreditava, de tudo o que já fizera e de como eu entendia a música até então. Eu era muito radical, gostava de pouquíssima coisa. João era meu ídolo e nada, quase nada passava pela minha peneira. Não gostava de iê iê iê, nem da jovem guarda, de nada. Precisava fazer alguma coisa para me expressar, botar pra fora o que eu sentia, com força, atitude, e que, falando francamente, chamasse a atenção sobre mim.

Gil e Caetano, envolveram-se de corpo e alma com essas novas experiências da música popular brasileira. E dentre essas pesquisas me deparei com Divino Maravilhoso, uma canção que mexeu comigo. Caetano convidou-me para cantá-la no Festival da Record e Gil se propôs fazer o arranjo. Ele foi tão perspicaz que me perguntou como é que eu queria cantá-la. Expliquei que queria cantar de uma forma nova, explosiva, de uma outra maneira. Queria mostrar uma outra mulher que há em mim. Uma outra Gal além daquela que cantava quietinha num banquinho a bossa nova. Queria cantar explosivamente. Para fora. Gil fez então o arranjo para o Divino Maravilhoso.

Quando Caetano me viu pisar o palco cheia de penduricalhos e espelhinhos pendurados no meu pescoço, aquela cabeleira afro armada por Dedé, quase morreu de susto. Ele não sabia de nada. Não tinha escutado o arranjo do Gil, nada, nada. Cantei com toda a fúria e força que haviam em mim. Metade da platéia se levantou para vaiar. A outra metade aplaudiu ferozmente. Um homem na minha frente berrava insultos. Foi então que me veio ainda uma força maior que me atirou contra ele. Cantava diretamente para ele: É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte! Cantava com tanta força e tanta violência que o homenzinho foi se aquietando, se encolhendo, e sumiu dentro de si mesmo. Foi a primeira vez que senti o que era dominar uma platéia. E uma platéia enfurecida. Naquele tempo de polarização política, a música era a única forma de expressão. Despertava paixões, verdadeiras guerras. Saí do Divino Maravilhoso fortalecida, crescida. Acho que naquela noite entrei no palco adolescente, menina, e saí mulher. Sofrida, arrebentada, mas vitoriosa.

1968 - Divino, Maravilhoso

Baianos na TV: "Divino, Maravilhoso"
Fonte: Folha de São Paulo - 30 de outubro de 1968
   
Um ano após o estouro de Alegria, Alegria e Domingo no Parque, um ano após a sacudidela na música popular brasileira, de que resultaram novas concepções, novos caminhos, somente um ano depois de discutidos, condenados e elogiados, Caetano Veloso e Gilberto Gil conseguem um programa na televisão. Só anteontem em “Divino, Maravilhoso”, na TV Tupi, o público telespectador, ou a massa média, começa apreciar mais extensamente a estética nova que os baianos se propõem e propõem comunicar. Só agora, com programa regular, sistemático, Caetano e Gil têm oportunidade de testar o seu novo comportamento musical. Da aceitação popular ou não, da deglutição ou não, do consumo ou não, já que eles estão na faixa do “produssumo” - produzir para o consumo, no neologismo criado por Décio Pignatari - depende a sobrevivência do grupo e a validez de suas teses, ou de sua revolução.

Um novo conceito estético, radicalmente desvinculado do passado (“Isso que anda por aí está tudo velho”, disse Caetano) e, integralmente integrado no presente - não no futuro - é o que pretendem os baianos
e foi o que procuraram mostrar anteontem na estréia de “Divino, Maravilhoso”.

O programa é  produzido por Fernando Faro e Antonio Abujamra e tem o próprio Cassiano Gabus Mendes, diretor da estação, trabalhando no corte de imagens. Irá para o ar toda segunda-feira, às 21h30, até dezembro, quando termina o contrato dos artistas com a Tupi. Ou por muito tempo ainda, se tudo der certo, ou melhor, se as novas estruturas, ou as novas anti-estruturas passarem a ser consumidas.

Do primeiro “Divino, Maravilhoso” participaram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Bem, Os Mutantes,
Gal Costa e o conjunto Os Bichos. Quem ficou em casa para ver mais um programa de televisão,
enganou-se e, diante do engano, ou aplaudiu com entusiasmo ou vaiou com ódio. Indiferente
ao que acontecia no palco, todo decorado com quadros pop de um pintor japonês, é que não se ficou.

No começo aparece Caetano, de blusa militar aberta sobre o torso nu e o cabelo penteado. Senta-se num banquinho, em estilo ioga, e começa a cantar Saudosismo, sua nova música, toda nos moldes das bossa nova original, bem Tom Jobim, bem João Gilberto. Mas a música é para proclamar um Chega de Saudade e Caetano assanhar o cabelo e Os Mutantes entrarem em cena e começarem todos freneticamente, amalucadamente, a fazerem o “som livre”. No auge da improvisação, com guitarras, gritos e movimentos de quadris, Caetano diz que vieram mostrar o que estão fazendo e como estão fazendo. E o programa daí para o fim é o mau comportamento total, caótico nos sons e gestos, alucinação. Desfilam as novas músicas: Falência das Elites, Miserere Nobis, Baby, É Proibido Proibir, Caminhante Noturno, Panis et Circencis, etc. Cada qual se transforma num happening, num pretexto para extravagância, “loucuras”.

Para que Gil cante A Falência das Elites entram em cena várias latas velhas e é aquele baticum. Caetano deita-se no chão, rola-se como num estertor, vira as pernas para cima, de repente levanta-se e entra no ritmo alucinante, revirando os quadris, em gestos tão ousados que às vezes o próprio Cassiano não tem coragem de captar. O público, que lota o teatro do Sumaré, meio inibido no início, começa a aplaudir, Caetano fica satisfeito com a reação, mas depois diz que gostaria de mais participação,
mais vibração. Nos próximos eles esperam, a coisa irá esquentar, por enquanto foi só o início.

No final do programa, em meio a um improviso em que todos entram, Caetano grita a palavra de ordem, “Acabar com o velho!” e dá um viva a Rogério Duprat, que está sentado na platéia.

É um programa quente, movimentado, tropical, imaginativo, diante do qual ou se tem amor ou ódio e que, por isso mesmo, vai dividir muito a opinião pública. Se pegar, como tudo indica, poderá ser para a música nova, o “som livre”, o mesmo que foi “O Fino da Bossa” para o tipo de música de que os baianos agora querem distância.

1968 - Divino, Maravilhoso

Divino, Maravilhoso é uma canção composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, de 1968, e que ficou notabilizada na voz de Gal Costa.

Caetano e Gil compuseram "Divino, Maravilhoso" em uma época de grande efervecência na música popular brasileira, que lideraram a gravação de "Tropicália ou Panis et Circencis", de 1968, o disco-manifesto do movimento tropicalista. Deste LP, participariam também Os Mutantes, Nara Leão e Gal Costa.

No final de outubro daquele ano, estreou na TV Tupi, de São Paulo, o programa de vanguarda "Divino, Maravilhoso", comandado por Caetano e Gil e do qual participavam Jorge Ben, Os Mutantes, Gal Costa e o conjunto Os Bichos.

Próxima dos tropicalistas e considerada a musa do movimento, Caetano sugeriu que Gal participasse da quarta edição do Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record (também de São Paulo) com a canção "Divino, Maravilhoso", e Gil se propôs fazer o arranjo. Caetano perguntou como Gal queria cantar a canção, e a cantora explicou que queria cantar "de uma forma nova, explosiva, de uma outra maneira", mostrando "uma outra mulher", "uma outra Gal além daquela que cantava quietinha num banquinho a bossa nova".

Na noite do dia 13 de novembro de 1968, Gal subiu ao palco para interpretar a canção que seria um marco em sua carreira. A cantora defendeu a canção de maneira agressiva, explorando toda a potencialidade da sua voz, utilizando mais os agudos, um jeito de cantar completamente diferente do que vinha fazendo até então, mais inspirado na Bossa Nova. Até o visual de Gal estava diferente:cabelo black power e um enorme colar de espelhos no seu figurino. A plateia ficou divida durante a interpretação - uns vaiavam, outros aplaudiam a cantora. A canção terminou na 3ª colocação no festival.

Em 1969, Gal gravou "álbum homônimo", seu primeiro LP individual, que teve grande sucesso comercial. Entre as doze faixas, estava "Divino, Maravilhoso".

Abaixo, dois vídeos desta apresentação incrível, eternizada por Gal Costa.






Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.