quinta-feira, 12 de agosto de 2010

1966 - I Festival Internacional da Canção (FIC)

I Festival Internacional da Canção (FIC) - 1966
Editado por: Lucas Costas, Cláudio Pires, Laura Penha
Fonte: Site ~> Era dos Festivais

Iniciativa do jornalista Augusto Marzagão, o Festival Internacional da Canção (FIC) tinha, de cara, algumas diferenças importantes em relação aos Festivais da TV Record e da Excelsior: em primeiro lugar, haveria um festival semelhante aos dos concorrentes para escolher a vencedora de uma fase nacional. Mas havia uma fase seguinte na qual, essa vencedora disputaria com músicas e intérpretes de outros países. Outra diferença era a cidade escolhida para ser a sede: enquanto os outros festivais ocorriam em São Paulo, o FIC seria no Rio de Janeiro. Uma resposta negativa do Theatro Municipal e do Teatro Carlos Gomes levaria os organizadores a optar por realizar o festival no Maracanãzinho. Não bastassem as ambições internacionais, a opção por realizar o evento em um estádio esportivo com mais de 10 mil lugares já elevava as expectativas a patamares muito maiores, antes mesmo de a primeira eliminatória ser marcada.

Marzagão precisava convencer algum canal de TV a embarcar no seu projeto. Primeiro, procurou Walter Clark na Rede Globo, mas ouviu uma resposta negativa. Sua segunda opção foi a TV Rio. Carlos Manga, que trabalhava na emissora, conta como recebeu a proposta: "Eu não tinha o que fazer na TV Rio porque não tinha dinheiro. Não tinha nada, não tinha elenco, não tinha nada. Aí me aparece um senhor que era o Marzagão dizendo que o Walter Clark da Globo não queria, ninguém aceitou o Festival Internacional. Não é que eu tenha descoberto um sucesso, mas quem não tem nada tem que aceitar o que aparecer. Então disse 'eu quero, claro que eu quero'. Ele me perguntou: 'Você tem condições de fazer?' Eu disse, 'tenho, tenho'. Tinha nada. Acontece que com o papel na mão eu consegui vender. Ele ganhou um dinheirão e eu tive o dinheiro pra fazer o cenário." Estava confirmado o I Festival Internacional da Canção, cujo símbolo, um galo de ouro, tornou-se famoso e cobiçado.

Marzagão realmente tinha conseguido trazer convidados internacionais de peso. Estavam no Rio Henry Mancini, Les Baxter, Ray Evans, Nelson Riddle. Mas, quando os acordes da orquestra atacaram um pot-pourri com diversas músicas sobre o Rio de Janeiro anunciando o início da primeira eliminatória no dia 22 de outubro de 1966, era o II Festival da Record que estava com a bola toda. Chico Buarque, que estava fazendo um gigantesco sucesso com "A Banda", foi convidado para ser o presidente do júri do FIC. Os acordes do pot-pourri também revelaram um problema que seria frequente em todas as apresentações no Maracanãzinho: a acústica era péssima.

Depois das três eliminatórias nacionais, o comentário geral era de que o clima das músicas era muito triste. Realmente, as canções que mais se destacaram - "Canto Triste" (Edu Lobo/Vinícius de Moraes), com Elis Regina; "Saveiros" (Dori Caymmi / Nelson Motta), com Nana Caymmi; e "Dia das Rosas" (Luis Bonfá / Maria Helena Toledo), com Maysa - eram lindíssimas, mas estavam longe das músicas que inflamaram as plateias dos festivais, como ocorrera meses antes com "A Banda" (Chico Buarque) e "Disparada" (Geraldo Vandré/Theo de Barros) no II Festival da Record.

Outro elemento que apareceu de forma avassaladora nesse festival - e não desapareceu mais nos anos anteriores - foi a vaia. Na noite da final, estavam presentes cerca de 5 mil pessoas no Maracanãzinho. Era um público menor do que o das eliminatórias. Mas nem por isso estavam menos animados. As preferidas eram "Dia de Rosas" e "O Cavaleiro" (Tuca/Geraldo Vandré), com Tuca. As vaias começaram antes da divulgação do resultado. Mas não eram para as concorrentes. Os cariocas só se acalmaram quando conseguiram o que queriam: finalmente, Chico Buarque, então presidente do júri, arrumou um violão emprestado e cantou "A Banda".

O clima de tensão pairava nos bastidores e na plateia. Havia muita expectativa antes do anúncio das vencedoras. Quando o primeiro lugar foi anunciado para "Saveiros", explodiu uma estrondosa vaia. Tão forte que, por muitos anos, ficou marcada como a primeira grande vaia da era dos festivais. Quarenta anos depois, Nelson Motta, letrista de “Saveiros”, analisa que "a vaia nem era muito pra Nana, nem pra nós especificamente. Era pro resultado. Eu vivi uma experiência muito interessante. Quando você tiver no palco de um ginásio com metade do público vaiando e metade aplaudindo, eu não sei por que, mas você só ouve as vaias. Então foi uma lição de vida. Aprendi que a vitória pode trazer um efeito colateral".

Dory Caymmi também analisa o que aconteceu e revela brigas nos bastidores: "Quando a Nana cantou, eu errei na tonalidade. Fiz na tonalidade original e a Nana teve que gritar pra atingir. Outra coisa muito curiosa do 'Saveiros' foi nos bastidores: a Nana desmaiou, teve um troço sério qualquer e tal. Dizem as más línguas que foi a Maysa e a Elis que apertaram ela. E a minha mãe entrou no camarim e deu um esporro fantástico. A Nana teve que tomar uma injeção pra poder cantar. Ela ficou com trauma de Maracanãzinho e eu também. Acho que não era lugar pra se fazer música."

Mesmo com as vaias e sem o Maracanãzinho ficar lotado na final, o I FIC foi um sucesso de audiência na TV. A Rede Globo voltou atrás e tentou participar da fase internacional, mas a TV Rio não permitiu. No ano seguinte, não houve jeito: "alguém mais poderoso que a TV Rio, que foi a TV Globo, levou o festival, levou o Marzagão, levou todo mundo, acabou levando eu também.", revela Carlos Manga.

Com a vitória na parte nacional, "Saveiros" representou o Brasil na fase internacional. A vencedora foi a alemã "Frag den Wind" (Helmut Zacharias/Carl J. Schauber), com Inge Bruek. A preferida do público era a francesa "L'Amour Toujours L'Amour" (Daniel Faure), com Guy Mardel, que ficou em terceiro. O segundo lugar ficou com "Saveiros".

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

As pessoas levavam muito a sério aqueles festivais.