Entrevista: Eu gosto que me chamem de Gal
Revista Interview - Fevereiro de 1979
Por Scarlett Moon de Chevalier
Depois de assistir "Gal Tropical", comer galinha ao molho pardo chez Guilherme Araújo, tomar muito vinho tinto, chorar ao ouvir "Força Estranha", dançar, curtir, me emocionar, surgiu essa conversa. Gal é uma deusa, uma estrela, uma maravilha de presença! Cada vez me convenço mais de que "O mundo é melhor, porque ela existe! Viva Gal! Amém!
ENTREVISTA
Scarlett Moon: Vamos começar então?
Gal Costa: Vamos!
Scarlet Moon: Quando você dá uma entrevista, você tem algum lugar em especial, por onde você gostaria de começar?
Gal Costa: Não. Espero que você me pergunte e, aí, eu respondo na medida do que sei...
Scarlet Moon: Então tá! vamos lá: nesse show, você está ocupando aquele espaço todo, em todos os níveis, como cantora, como figura, sabe? É um negócio total! Como é que você vê isso? É resultado de alguma coisa? Qual foi o processo?
Gal Costa: É resultado de várias coisas, de amadurecimento...Acho que nesse momento, aliás foi Guilherme, que dirigiu esse show, quem disse isso, o importante é a Gal mulher. Estou madura, agora, quer dizer, eu sei meus passos, entendeu? Dentro da música brasileira, sei meu lugar, entendeu? Tenho segurança. Então eu sei como manejar as minhas possibilidades como cantora, como artista, num palco. É isso que está acontecendo. É uma coisa consciente, quer dizer, espontânea...Da forma que transo meu trabalho, mesmo! Eu sempre quis ser cantora profissional e transo minha carreira muito na base da espontâneidade mesmo, entendeu? Da liberdade mesmo. Num sentido quase inconsciente, mesmo. A coisa da criação, no sentido mesmo da palavra...deixar sair, sabe?
Scarlet Moon: No show, de repente, as coisas acontecem muito de acordo com aquele discurso do Caetano, no show dele, ou seja, a coisa sendo assim uma celebração do "ser" artista, né? De todos os artistas, na medida que teu trabalho, eu penso assim, é reflexo de muitas outras coisas e se reflete em outras muitas coisas, ne? Isso, eu curti muito quando vi o show. É bonita essa coisa da importância do artista, né? O que é, ser artista! E, ali mais do que nunca, você está sendo artista muito bem, né? Com uma imensa categoria. Com um bom gosto incrível! E, a gente sente que aquilo tudo sai de dentro de você, sabe?
Gal Costa: É, sai lá de dentro mesmo. E, também, eu amadureci muito. Cresci muito, quer dizer, essas viagens que fiz para o exterior, os shows na Europa e em Buenos Aires, abriram , também a minha cabeça. Então, eu acho que isso me deu mais segurança... eu não sei... essas coisas de tempo que não tem como justificar... Hoje, falei com Caetano, no telefone, e disse pra ele que estava cantando "Força Estranha". É o momento que mais gosto do show. Quer dizer, gosto de todos os momentos, mas quando canto essa música, sinto que o show inteiro está sintetizado, ou melhor, cabe naquele momento, sabe? É essa coisa do artista, do tempo, da criação, né? Eu fico muito emocionada nessa hora...
Scarlet Moon: Também me emocionei demais. Chorei muito quando você cantou "Força Estranha". É uma coisa muito boa! Aliás, já te disse isso antes: "acho que o mundo é melhor, porque você existe!" (risos)
Gal Costa: Eu acho que o mundo é melhor, porque a música existe! (risos)
Scarlet Moon: Você acha que a análise tem a ver com tudo isso do show?
Gal Costa: Tem! (com veemência). Muito mesmo. A análise me ajudou a amadurecer, a descobrir muita coisa que estava embutida aqui dentro. Eu acho que ajudou sim...
Scarlet Moon: Essas coisas embutidas, quando você começou a fazer análise, era isso ou elas que você buscava? O que você procurava?
Gal Costa: Eu procurava ficar assim... sei lá... eu procurava uma forma de me equilibrar. De me soltar. Aí, quer dizer, eu não sabia o que era, eu, fui fazendo... porque eu era uma pessoa muito angustiada... Hoje em dia, eu sei conviver com a minha angústia. Quer dizer, sou uma pessoa naturalmente alegre, mas, confesso que antes da psicanálise, era uma pessoa muito angustiada. Hoje em dia, sou bem menos, por causa da análise.
Scarlet Moon: E, vem cá, você tem personagens?
Gal Costa: Não
Scarlet Moon: Nunca curtiu?
Gal Costa: Não. A Rita tem milhares, né?
Scarlet Moon: É
Gal Costa: Pois é, mas eu não tenho...(risos)
Scarlet Moon: Eu tinha notado isso... Inclusive, quando você entra no palco, é você forte, né? É uma vibração tua, né? Não é um personagem muito diferente do que você é na realidade.
Gal Costa: É meu lado mesmo. Quer dizer, é a coisa mágica do palco...Você entrar num palco, é como receber um santo, sei lá, o quê... Dá um click na cabeça que não sei explicar! Você fica tomado por uma coisa, uma força...
Scarlet Moon: Uma força estranha...
Gal Costa: Pois é, uma força estranha que lhe leva a fazer as coisas... sei lá!
Scarlet Moon: Você não acha que depois desse show... Aliás, já tinha pensado nisso antes mas, agora, a coisa ficou mais forte...Você não acha que pessoas de outras línguas, outras etnias precisam te ouvir? Você não tem essa curiosidade?
Gal Costa: Tenho e quero. Principalmente depois dessa viagem à Europa e a Buenos Aires, tive a certeza de que devo fazer coisas fora do Brasil. Quero fazer e vou fazer...Chega um momento em que, estou sentindo isso, é preciso abrir, fazer coisas novas, sei lá, expandir a minha cabeça... Agora vou partir para essa coisa. Inclusive, esse trabalho, por um lado, foi feito pensando na minha saída... Ele é todo muito forte, tem uma unidade, é muito brasileiro. E, acho que ele é muito universal porque acho que a música brasileira é universal. É a única música no mundo que é universal! Tudo que se faz de música no mundo inteiro, tem na música brasileira.
Scarlet Moon: Como é que você pensa esse negócio? Você gosta de falar de planos?
Gal Costa: Acho que meu trabalho, fora do Brasil, tem grandes possibilidades.Porque meu trabalho é muito acessível, numa medida mesmo universal...
Scarlet Moon: Como é que é se sentir estrela?
Gal Costa: Eu sou uma estrela. Eu sei que quando subo num palco, sou uma estrela. Mas eu não sei. Não sei porque acho que vem da alma da gente. Desde pequena, sempre quis ser cantora. Sonhava. Quando era pequena, sonhava com palco. Sonhava em ser aplaudida...Então, na minha cabeça, via as pessoas me aplaudindo, me querendo. Via mesmo. E queria. Era coisa de ambição minha, pessoal. Assim, tá na alma mesmo. Tá no querer. E acabou...
Scarlet Moon: Acabou sendo
Gal Costa: Acabou sendo, né?
Scarlett Moon: Mas é um trabalho, né? É uma luta.
Gal Costa: É uma luta.
Scarlet Moon: Você teve algum momento, em que você pensou em desistir?
Gal Costa: Tive. Na minha cabeça, eu sabia que tinha nascido para ser cantora...Mas , teve um momento aqui no Rio, quando vim embora pra cá, que estava só, as coisas estavam difíceis, que pensei em voltar pra Bahia. Mas aí, Caetano me deu a maior força e, decidi ficar. Depois, veio aquela fase de "Divino Maravilhoso" que começou uma carreira de sucesso. Mas antes disso, tive momentos em que quis ir embora mesmo.
Scarlet Moon: Você canta muito bem, tua voz é um instrumento. Além disso, você toca também. Você nunca pensou em compor?
Gal Costa: Às vezes eu penso, mas aí eu não sei...Tenho preguiça! Acho que poderia compor sim... Aliás, não sei se é por preguiça. Não sei se tenho talento...Acho que tenho talento prá cantar...
Scarlet Moon: Então, mas aí, é uma coisa próxima, né?
Gal Costa: Mas, isso é meio complicado na minha cabeça. Às vezes eu tenho vontade... às vezes eu brinco em casa com o violão, faço coisas, até acho bonito... mas, essa coisa de compor, na minha cabeça, eu não sei... Não sei, na verdade, se eu quero ou não... Se eu tenho talento, ou não... Se é preguiça ou não... Eu gosto muito é de cantar, eu, realmente, adoro! Acho que quanto canto qualquer música, já me satisfaz. É como se estivesse compondo a música.
Scarlett Moon: Você esta sempre criando em cima.
Gal Costa: É, criando. Descobrindo...
Scarlett Moon: E, como é essa coisa de você querer fazer cinema?
Gal Costa: Fico pensando porque tenho vontade de fazer um trabalho de atriz. Acho que no Brasil, ninguém ainda fez um filme à altura da música brasileira. Queria fazer um musical. Fiquei com vontade de fazer, depois que vi "A estrela sobe", que achei um filme prá baixo. Não é alegre, né? Aí, fiquei com vontade. Ficou a coisa na minha cabeça...Tenho vontade. E vou fazer um dia... tenho certeza! Por enquanto, quero outras coisas: quero fazer esse show que estou fazendo; quero fazer shows fora do Brasil...
Scarlet Moon: Você falou que sempre pensou em ser cantora. Quer dizer, tem também essa vontade de ser atriz, mas, você nunca pensou em outras possibilidades?
Gal Costa: Quando era pequena, na verdade, eu dizia que queria ser engenheira e, que mais... ah! cobradora de ônibus... Mas, na verdade, cantora foi sempre o que quis ser!
Scarlet Moon: Por que cobradora de ônibus? (risos)
Gal Costa: Porque eu adorava ficar com aquele dinheiro, as moedas na mão, brincando. Daí, dizia que queria ser cobradora de ônibus...(risos). Mas, na verdade, já sabia que queria ser cantora. Era muito apaixonada, ouvia muitas coisas, cantava muito, no colégio, organizava as festas. Quando ouvi João Gilberto, fiquei tão apaixonada. Eu transava uma coisa de técnica, eu mesma, entendeu? Ficava atrás de portas, no banheiro, minha mãe tinha uma panela muito grande, daí, metia a cabeça dentro da panela e ficava, eu mesma, transando a emissão da minha voz.
Scarlet Moon: E quais eram as cantoras que você curtia nessa época?
Gal Costa: Gostava de Angela Maria, Dalva de Oliveira, eu ouvia muito. Eu ouvia muito Anisio Silva. Não sei nem se você conhece?
Scarlet Moon: Han! Han! Claro!
Gal Costa: Pois é!
Scarlet Moon: Pois é, ele sumiu
Gal Costa: Ele era um cara, fudido, triste! Cantava umas coisas tristes! Era assim mulato, de cabelo duro, com umas roupas horríveis, pobres. Eu era fascinada por esse homem. Achava uma coisa forte, nele. Cantava as coisas dele, na época.
Scarlet Moon: Aí pintou o João Gilberto que te modificou...
Gal Costa: Modificou minha cabeça, né?
Scarlet Moon: Como é que pintou, acho que você já deve ter falado nisso mais de mil vezes, a ligação com Gil, Caetano e o resto do pessoal?
Gal Costa: Quando inaugurou a televisão na Bahia, Caetano e Gil, Gil muito mais, faziam um programa todo sábado. Aí, Gil cantava...
Scarlet Moon: E tocava sanfona?
Gal Costa: Não, tocava violão mesmo. E, ele tocava todo sábado. Eu adorava ele, era fã mesmo. Caetano e Bethânia, eu não conhecia ainda.
Scarlet Moon: Mas, você já era vizinha de Sandra e Dedé?
Gal Costa: É, eu era vizinha delas e, assistia esse programa na casa delas, aos sábados. Aí, um dia, assisti Caetano e Bethânia na televisão, no programa de Carlos Coqueijo, que é pai de Enéas, o baterista. Aí, conheci Caetano porque Dedé era amiga de uma amiga de Caetano e, um dia ela me viu cantar. Daí, me levou lá num lugar chamado Bazarte, onde freqüentavam os intelectuais da Bahia. Era um barzinho, meio galeria de arte... Aí, fui lá. Caetano adorou e, passei a me encontrar com Caetano. Ele gostou muito, no dia seguinte já queria se encontrar comigo. Daí, já conhecí Bethania, conheci o Gil e, aí, fui conhecendo as pessoas... Comecei a cantar. Foi bom porque Caetano me adorou e Gil me deu muita força, de cara logo...
Scarlet Moon: Como é que pintou a mudança de Maria da Graça para Gal?
Gal Costa: Foi Guilherme que mudou para Gal. Meu apelido já era Gal, né? Guilherme montou a capa e começou a trabalhar com Gil, Bethânia e Caetano... eu vim no bolo, na realidade... e, aí ele transou, disse que Gal seria um nome perfeito, foi ele que escolheu. E, eu adorei, porque adoro esse nome "GAL". Acho lindo!
Scarlet Moon: Eu também!
Gal Costa: Acho carinhoso, doce! Eu gosto, acho lindo! Me sinto bem em ser chamada de Gal.
Scarlet Moon: Nesse show, o repertório foi escolhido só por você? Ou Perna também escolheu?
Gal Costa: Não, nesse show o repertório foi escolhido por Guilherme e por mim. Posso até dizer o quê foi escolhido por mim: as coisas do disco. Guilherme não queria fazer um show vinculado ao disco. Ele só queria, na verdade, que tivesse "Olhos verdes", no show. Mas, como tinha acabado de lançar "Água Viva", queria que tivesse músicas do disco no espetáculo. Além disso tem "Juventude transviada", as coisas da Carmen Miranda. "Noites Cariocas" foi uma idéia do Guilherme, depois de uma conversa com Sergio Cabral, sei lá...
Scarlet Moon: A música é do Jaco do Bandolim, né?
Gal Costa: É sim!
Scarlet Moon: Gal, no "Juventude Transviada", você dá uma nova dimensão à poesia do Melodia, né? Você se liga mais, ou primeiro, em que, quando ouve uma música: na letra ou na música, no som mesmo?
Gal Costa: Na letra e na música ao mesmo tempo.
Scarlet Moon: Não tem diferença?
Gal Costa: Não, nenhuma!
Scarlet Moon: Você falou que "Força Estranha" é o melhor momento do show, né? (entra Guilherme Araújo, to join us in the interview)
Guilherme Araújo: Mas, o show todo é muito bonito!
Gal Costa: Estava dizendo a coisa, num sentido que "Força Estranha" sintetiza toda a força, toda a vibração da criação do espetáculo...
Scarlet Moon: A gente já falou sobre o discurso do Caetano, à respeito da celebração do artista, né? Você acha que nesse teu trabalho, tem isso, essa proposta, também?
Gal Costa: Tem sim, porque sou artista
Scarlet Moon: Gal, de quê você gosta?
Gal Costa: (risos) Ah! eu gosto de ir a praia, gosto de bichos, gosto de cachorros... além de cantar, né? (risos)
Scarlet Moon: (risos) Ça va sans dire, né (risos)
Gal Costa: Quê mais que eu gosto? Eu gosto de sair, passear, conhecer pessoas...eu gosto, sou uma pessoa muito acessível...
Scarlet Moon: Aí se insere o futebol?
Gal Costa: Há! Há! Há! Há! Há! Há! (numa alucinante e sonora gargalhada, impossível de ser reproduzida com fidelidade)
Scarlet Moon: E, o que você não gosta?
Gal Costa: Eu nunca acerto dizer o que eu não gosto... Eu nunca sei! Eu não gosto de bacalhau por exemplo... Não gosto muito de peixe...
Scarlet Moon: Você gosta ou não gosta, de repente, de ter um comprometimento como o público?
Gal Costa: Eu gosto até certa medida. Eu sou uma pessoa muito verdadeira nas minhas coisas. Tudo que faço... É por isso que acho que tenho uma admiração verdadeira e forte do público, porque meu trabalho vai evoluindo, se modificando por causa dessa minha relação verdadeira com ele, com a criação, né? Então, então...como era mesmo?
Scarlet Moon: O que estava te perguntando era se não te grila as pessoas te exigirem coisas, comportamento?
Gal Costa: Ah! Sim! Me cobrarem coisas?
Scarlet Moon: É, te cobrarem coisas...
Gal Costa: Ah! Claro que me grila! Mas me grila não de uma forma sufocante porque sei que isso é uma coisa que as pessoas cobram mesmo. Quer dizer, tá ai. Ninguém vai poder fugir. Tem que corresponder e, ao mesmo tempo, tentar manter sua integridade, né? Como pessoa, como artista, dentro disso tudo, né? Para colocar seu trabalho num nível verdadeiro, né?
Scarlet Moon: Vou plagiar uma pergunta que fizeram ao Gil, numa entrevista recente: Gal , você gosta de molecagem?
Gal Costa: (risos) Se gosto de molecagem? Eu gosto!
Scarlet Moon: Você é uma pessoa moleca?
Gal Costa: (risos) Às vezes, sou. Sou sim!
Scarlet Moon: Mas como? Que tipo de molecagem?
Gal Costa: Sou brincalhona. Sou assim bem infantil... fresca... Infantil assim num sentido de frescor, sabe? De jovialidade, sabe?
Scarlet Moon: Pra você, você acha isso importante?
Gal Costa: Eu acho. Isso mantém um lado meu jovem. Jovem no sentido renovador mesmo. De cabeça fresca, sempre ligada ao tempo, ao meu tempo, ao momento, entendeu?
Scarlet Moon: Atenta, né?
Gal Costa: É. Acho que isso é fundamental!
Scarlet Moon: E, você é uma pessoa atenta, né?
Gal Costa: Sou!
Scarlet Moon: E, você diz uma coisa? Como é que pintou, assim de repente, a coisa do Guilherme dirigir o show?
Gal Costa: O Guilherme, foi o seguinte: Fiz dois shows, duas temporadas, em Buenos Aires. Uma em outubro, outra em dezembro. Quando nós fomos em outubro, Guilherme assistiu o show lá e, foi muito forte a transação. Então, um dia depois de uma apresentação, Guilherme foi para o hotel e, me ligou as quatro horas, quatro e meia da manhã, dizendo que estava pensando.Tinha tido uma idéia dum show para mim e, não conseguia dormir. Estava excitado. Até brinquei com ele, estava meio dormindo já, e disse pra ele: -"Escreve tudo no papel, e amanhã a gente conversa". Então, no dia seguinte, ele veio já com tudo na cabeça, idéia do show, do cenário, roupas, escada, repertório, tudo na cabeça.
Scarlet Moon: Isso, esse show, é uma coisa importante na relação de vocês, né?
Gal Costa: É, porque minha relação com Guilherme, não é só empresário-artista. Tem uma coisa de amizade. Desde o início, mesmo quando Guilherme esteve fora, sempre existiu um contato. Sempre trabalhei com ele. Só quando ele fechou a Gapa e foi pra Londres, que trabalhei com Paulinho Lima. Mas, quando ele voltou, voltei a trabalhar com ele. Então, tem uma amizade. E, esse show foi feito, assim, com carinho mesmo. Na verdade, ele fez esse trabalho porque ele gosta de mim, né? Eu não vou ficar falando por ele. Porque você não pergunta prá ele?
Scarlet Moon: Ele não quer falar. Só fica aí bebendo vinho. Mas vem cá: se você tivesse que colocar em termos de percentual o teu trabalho, esse carinho, essa coisa de amizade, isso aí entraria como? Seria cinqüenta por cento, seria sessenta por cento, seria quanto?
Guilherme Araújo (entrando enfim , na conversa): Eu queria falar uma coisa. Depois da estréia, estava conversando com o Leon, aqui em casa. Porque ele ia dirigir o show de Gal...
Scarlet Moon: Ia dirigir esse show?
Guilherme Araújo: Não, ia dirigir um outro show de Gal. Não esse. Como a gente se conhece muito, há muitos anos mesmo, para mim foi muito fácil fazer esse trabalho, tá entendendo? Na verdade, era só eu querer fazer. Eu não tinha pensado... Eu comecei a pensar em propor a Gal, dirigir esse espetáculo fora do meu relacionamento com ela, como produtor e, queria produzir, também um espetáculo de Gal , tá entendendo? Mas, ela achou fantástico! Como eu não sentia, quer dizer, a procura estava sendo muito lenta, tá entendendo? De repente, eu me dispus a fazer, cê tá entendendo?
Scarlet Moon: Hum! Hum!
Guilherme Araújo: Quando quis tentar, foi muito fácil. A coisa veio imediatamente, tá entendendo?
Scarlet Moon: Mas, isso é que acho que deve ser legal, num tipo de trabalho desse, essa coisa da relação!
Guilherme Araújo: Então, só ficaram as coisas que eu, sentado na platéia, gostaria de ver a Gal fazendo, gostaria de aplaudir. Todas as outras que Gal poderia fazer, mas que eu gostasse menos, não entraram no espetáculo, entende?
Gal Costa: Na verdade, o que Guilherme está dizendo, é que ele pegou todas as coisas minhas agora, do jeito que eu sou, não tem nada. É tudo verdadeiro. É o meu jeito, meu cabelo, minha cara, tá lá!
Guilherme Araújo: É, é verdadeiro. As coisas que eu mais gostaria de ver você fazendo, estão lá entende? Eu, e milhões de pessoas...
Scarlet Moon: E todas as outras atribuições de pessoas, no show, pintaram também em função disso? Ou seja, o Guilherme Guimarães fez as roupas, o outro Guilherme a maquiagem...
Guilherme Araujo: Aí entra mais o produtor, quer dizer, eu acho que o mérito maior de um produtor é reunir uma boa equipe, ouviu? é você dividir o trabalho com boas pessoas, ouviu? Desde o início, queria Guilherme Guimarães, ouviu? Então, quando Gal me falava, por exemplo, que Guilherme ela não conhecia pessoalmente, e havia outros costureiros que ela conhecia pessoalmente, ouviu? Eu não me descuidava dessa assistência a ela, mas era tão clara na minha cabeça a presença de Guilherme, que faria uma coisa muito bonita, como a gente queria e muito bem feito, ouviu? criando em cima, ouviu? E ela me cobrava todos os dias: "ligue prá fulano, ligue pra beltrano". Eu estava dando tempo, ouviu?
Scarlet Moon: Você estava cozinhando para chegar em quem você queria?
Guilherme Araújo: Fazer uma conquista, cê entende? Sem ferir a vontade dela, não é? Mas eu sabia que era preciso um tempo, ouviu?
Scarlet Moon: Quando você conheceu Guilherme Guimarães, foi amor à primeira vista?
Gal Costa: Foi. Foi amor à primeira vista! Eu adorei!
Scarlet Moon: Tem três Guilhermes nesse show, né?
Gal Costa: É, tem três!
Scarlet Moon: É tri-gui, né?
Guilherme Araújo: Hum! Hum! É tri-gui!
Gal Costa: Guilherme é uma pessoa maravilhosa! Ele fez um trabalho excepcional! Eu me sinto muito bem dentro daquelas roupas! Realmente muito bem. Ele é um barato!
Scarlet Moon: Me diz uma coisa, Gal, eu te perguntei se você era boa madrinha?
Gal Costa: Sou.
Scarlet Moon: Moreno é teu único afilhado?
Gal Costa: Não. Tenho uma afilhada chamada Prêta Maria, que é filha de Gil e Sandra.
Scarlet Moon: Ah! Prêta. Que é lindinha! Você nunca pensou em ter um filho?
Gal Costa: Já, já pensei mas, é confuso na minha cabeça. É que nem compor! (risos) Não sei se quero ou se não quero... se tenho preguiça ou tenho medo?... eu não sei...Ter filho deve ser um barato, deve ser uma coisa que completa a mulher, né? Mas, por enquanto, eu tô parindo os meus shows. (risos)
Scarlet Moon: Eu te perguntei sobre futebol e você não me respondeu a pergunta.
Gal Costa: O que eu acho do futebol?
Scarlet Moon: Não. Eu sei que você não acha nada, porque você não entende, entende?
Gal Costa: Não, futebol eu não entendo.
Scarlet Moon: O Guilherme entende mais, não é?
Gal Costa: Ha! Ha! Ha! Ha! Ha! (numa cristalina, retumbante e irreproduzivel gargalhada)
Scarlet Moon: Mas e aí? E o Rei?
Gal Costa: Que Rei? Qual deles?
Scarlet Moon: O do Cosmos? (risos)
Gal Costa: Rei do Cosmos? Tá bem... não sei...
Scarlet Moon: O do Santos.
Gal Costa: Somos apenas bons amigos! Grandes, bons amigos!
Scarlet Moon: Você vai gravar alguma coisa dele?
Gal Costa: Eu tô com uma fita dele em casa, estou ouvindo, pensando...Com o maior carinho....
Scarlet Moon: Você acha ele melhor jogador ou compositor?
Gal Costa: Acho ele melhor jogador em todas as áreas, né? (risos)
Scarlet Moon: No show, tem um agradecimento que não foi feito, né? Que o Guilherme esqueceu?
Gal Costa: Qual?
Scarlet Moon: Um agradecimento à Ava Gardner.
Gal Costa: Ah, é! Ava Gardner.
Scarlet Moon: Ela foi marcante pra você, em termos de influência de cinema?
Gal Costa. Ah, sim! Ava Gardner, Rita Hayworth, aquela...Cid Charise, também... Fred Astaire...
Scarlet Moon: E, Frank Sinatra, cê curtia?
Gal Costa: Curtia.
Scarlet Moon: Em que nível? Tipo aquelas coisas de Doris Day?
Gal Costa: Eu via tudo. Filme musical americano, brasileiro, naquela época da Atlântida, eu via tudo, Adorava!
Scarlet Moon: Você sonhava com aquilo?
Gal Costa: Sonhava! Me apaixonava pelas estrelas, pelos atores... Realmente eu me apaixonava!
Scarlet Moon: Era aquela coisa do "Dream come true", né?
Gal Costa: Sonho e realidade
Scarlet Moon. E, teu show é isso, né? Sonho e realidade.
Gal Costa: É, pode definir assim. Pra mim também, porque é uma coisa que sonho desde pequena e, tá aí, né?
Agradecimentos: Material disponibilizado por Antonio Saldanha no Site Argentino.
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