segunda-feira, 11 de outubro de 2010

01/10 - Show 'Voz & Violão' em Sampa (Anhembi)

02/10/10 - Voz de Gal dá vida a (feliz) show de entressafra
Fonte: Notas Musicais - Por Mauro Ferreira

Foto: Mauro Ferreira

Resenha de Show

Título: Gal Total
Local: Palácio do Anhembi (SP)
Data: 1° de outubro de 2010
Cotação: * * * *

O recital de voz & violão apresentado (ocasionalmente) por Gal Costa no Brasil e no exterior - ora intitulado Gal Total para aludir à homônima recém-lançada caixa de reedições da obra da cantora na extinta gravadora Philips - é mero show de entressafra, ponte entre o abortado Hoje (2005) e a turnê que chega à cena em 2011 para badalar o disco a ser lançado com produção de Caetano Veloso e Moreno Veloso. Mas a voz cristalina da intérprete dá vida a um show que poderia resultar banal se a cantora em cena não fosse Gal Costa. Com sua voz que - parafraseando os versos de Caetano Veloso em Minha Voz, Minha Vida, música escolhida para abrir o roteiro calcado em sucessos - tem sido sua bússola, mas também sua desorientação, Gal cria atmosfera de sedução que embeveceu o público que foi em 1º de outubro de 2010 ao Palácio do Anhembi, em São Paulo (SP), conferir à apresentação única do show na capital paulista. Ainda em forma, o cristal de Gal dá brilho a músicas conhecidas, mesmo às mais batidas, como a Garota de Ipanema de Tom & Vinicius, trazida "de jatinho" a Sampa como brincou Gal em cena. A propósito, Gal nunca esteve tão falante e bem-humorada no palco. É nítido o seu prazer ao desfiar o roteiro do concerto na companhia do violão de Luiz Meira. Nada tem a intensidade de tempos idos. Mas tudo soa leve, sedutor, às vezes até arrebatador (como a interpretação de Vapor Barato que fez a plateia saudosa de Gal a aplaudir de pé). Talvez porque, em sua voz precisa, Gal traga uma vida que se entrelaça com o melhor que foi produzido na música brasileira ao longo dos tempos, de Dorival Caymmi (Vatapá, ainda saboreado com gosto pela cantora, e o samba-canção Sábado em Copacabana) e Ary Barroso (Camisa Amarela e uma Aquarela do Brasil que culmina numa batucada de voz & violão) a Chico Buarque (Folhetim, Samba do Grande Amor e Quem te Viu Quem te Vê) e Djavan (Azul, com tons mais suingantes), passando naturalmente pela Bossa Nova (Wave, número em que Gal explora os tons graves de sua voz, ora mais aveludada e menos cristalina) e, claro, por Caetano Veloso (Você Não Entende Nada, Força Estranha e Meu Bem, Meu Mal), o compositor que a tem  guiado ao longo da carreira, como a bússola que a livra de muitas desorientações. Até o frevo-quadrilha Festa do Interior (Moraes Moreira e Abel Silva), resquício da vivaz fase tropical de Gal, reaparece no roteiro (com Meira tentando evocar no violão a batida veloz do tema de 1981), sem tirar a cantora do cômodo tom de diva da canção brasileira. Somente a melosa Chuva de Prata (Ed Wilson e Ronaldo Bastos) lembra tempos de desorientação em que Gal banalizou seu canto e, sem bússola, se deixou levar pelos ventos fugazes do mercado fonográfico. Só que a vida que ela traz na voz, aos 65 anos, paira acima de tudo. E o prazer que Gal sente e proporciona em cena ao se valer de sua voz faz show transitório ser totalmente demais...

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