quinta-feira, 30 de setembro de 2010

1967 - Disco: Domingo

1988 - Caetano de ouvir cantar
Por Roberto Benevides - Songbook Caetano Veloso - Editora Lumiar
Trechos retirados do site oficial de Caetano Veloso

* Em destaque na cor verde o disco "Domingo" *

- A Maria Laís, que era professora de dança me disse: "Caetano, eu conheci uma menina que canta lindo e estou louca que você a ouça cantar. Ela é vizinha de uma aluna minha e e eu vou pedir pra minha aluna marcar o encontro. Elas são jovens, as mães não deixam sair de noite, mas quero ver se marco um encontro." Um dia, ela marcou no teatro. Fui lá e encontrei a tal aluna. Era a Dedé. O alvo da Laís era que eu conhecesse a Gal, Dedé era apenas a intermediária. Mas eu nem me interessei muito pelo encontro porque adorei a Dedé e fiquei pensando assim: "Puxa, essa menina devia ser minha namorada". Pensei mesmo. Olhei pra ela e achei isso. Imediatamente. Gostei dela, achei a maior graça, toda animada, direta, linda. Era linda, tinha dezesseis anos.

E o tal encontro com Gal, aliás, Maria da Graça, a Gracinha?

- Ela veio com Dedé, toda tímida, roendo as unhas, encanada, esquisita. Aí Dedé mandou que ela pegasse o violão e cantasse. E ela tocou e cantou ‘Vagamente’. "Só me lembro muito vagamente...", de Menescal e Bóscoli. Ainda não existia o disco da Wanda. E foi engraçado porque a gente botou o apelido dela Gracinha Vagamente. Depois, saiu o LP da Wanda que se chama Wanda Vagamente. Mas a Gal cantou, e quando acabou, foi um choque. Aquela voz já era essa voz, cantando lindo. Eu disse: "Você é a maior cantora do Brasil". Ela: "O quê?" E eu: "Você é a maior cantora do Brasil, a maior de todas já, não tem dúvida, você é o máximo".

O mito Gal Costa nasceria mais tarde.

- Gal é o nome dela. Tem gente que diz que foi inventado por Guilherme Araújo. Não foi não, é mentira. Toda mulher baiana que se chama Maria da Graça ou das Graças, no plural ou no singular tem automaticamante o apelido de Gal. Gal é o nome dela, sempre foi o nome dela. A idéia de botar Gal Costa, de botar um dos sobrenomes como nome artístico, é que foi do Guilherme. Ele achava que Maria da Graça era nome de fadista, não condizia com uma coisa moderna. Nós achávamos Gal lindo, achávamos que poderia ser só Gal. Mas Guilherme odiava e odeia até hoje nome sem sobrenome, acha cafona, que não é chique. Foi ele que botou Moraes Moreira, Jards Macalé e Gal Costa.

Bethânia, Gal, Gil e Caetano - estavam prontos os Doces Bárbaros que, muitos anos depois, cheios de felicidade e amor no coração, entrariam nas cidades, rasgando a manhã, avançando através dos grossos portões. Ali em Salvador, em 1964, ano em que a ditadura se instala no país, o quarteto se junta com Tom Zé e faz o show ‘Nós, por exemplo'. Era a arrancada para o profissionalismo. Gil já pensava em mudar para São Paulo. Caetano foi ao Rio para acompanhar a mana Bethânia, convidada para substituir Nara Leão, estrela e musa da Bossa Nova, no show ‘Opinião’. Voltou a Salvador decidido:

- Olha, Gil, eu pretendo fazer outra coisa. Vou ficar por perto, quero acompanhar vocês, mas Bethânia já está lançada. Gal necessariamente será uma cantora e você é que é o homem da música mesmo. Eu vou gradativamente me afastando. Não quero fazer música, não me sinto músico.

Mais tarde, logo depois do Tropicalismo, Caetano teria uma recaída e, de novo, quis deixar a música para fazer cinema e bolar projetos para Bethânia, Gal e Gil:

- Eu queria fazer outra coisa pra não ficar entrar no trabalho direto com música e não atrapalhar os músicos de verdade. Mas o Gil, nas duas oportunadades que lhe falei disso, me dissuadiu desesperadamente. Reagiu nas duas ocasiões como se fosse uma coisa inaceitável. E me disse claramente que, se eu não fizesse música, ele deixava de fazer. Então, eu pensava: para mim, Gil é a própria música. Então, era a música me dizendo que eu tinha que fazer alguma coisa.

E fez. Afinal, quando levou aquele primeiro papo, na volta do Rio para Salvador, Caetano já era um compositor e, dentro de pouco tempo, lançaria "Domingo", um disco lindo e delicado, dividido com a ainda Maria da Graça. Mas não o encantam os ecos joãogilbertianos em "Domingo":

- "Domingo" é sub-Bossa Nova. A única coisa que não é sub ali é a voz da Gal. É bonito, tem alguma graça, mas desde aquela época eu achava isso mesmo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cleicia, querida.

Gostaria de saber se vc pensou na possibilidade de postar o audio dos shows de Gal, para downloads.

abs

Augusto Flávio [Petrolina-Pe]

Cleicia Martins disse...

Augusto, vou liberar sim. =)

Conversei com algumas pessoas a respeito e acho que não terá problemas, ao contrário, será excelente, de domínio público.

Tenho alguns arquivos que não ainda não foram compartilhados na net e acho interessante disponibilzá-los, mas farei assim: vou separar meus shows de forma cronológica e depois ler como se libera direitinho as músicas e separá-las. Então, pode demorar um pouquinho, mas prometo que esses dias me dedico a isso.

Beijo,
Cleicia.