sexta-feira, 20 de agosto de 2010

1990 - Plural

Saiba Mais ~> Disco: Plural
Por Douglas Carvalho, Tiago Marques e Fábio Coutinho


Após três anos sem nenhum lançamento, Gal Costa se uniu a Waly Salomão (direção) e Léo Gandelman (produção musical) para realizar a gravação do "Plural", uma perestroika na carreira de Gal, segundo Waly. Essa definição do poeta baiano se deve ao fato de que o disco anterior , "Lua de Mel Como o Diabo Gosta", foi muito mal recebido, e para Waly tinha sido artisticamente o fundo do poço, resultado de concessões à gravadora BMG com a finalidade de fazer um trabalho comercial e vendável, daí o repertório inferior e os arranjos convencionais. Em "Plural", Waly Salomão buscou sintonizar a cantora com o que havia de mais novo na MPB, e o que havia de novo em 1990 era... Axé Music. Antes do estouro de Daniela Mercury e da própria criação do termo Axé Music, Gal Costa mergulhou fundo no ritmo do samba-reggae, muito antes da moda atingir o sul do país e a música baiana se diluir num caldo ralo, comercial e popularesco de ritmos. Da nova música baiana, Waly selecionou dois hits locais, um do Olodum, o pot pourri que reúne "Salvador não inerte" e "Ladeira do Pelô" e outro do grupo Muzemza, "Brilho de beleza", uma belíssima homenagem a Bob Marley, e acompanhando Gal nas duas gravações a percussão pesada do grupo Raízes do Pelô, uma das bandas de percussão da época, que era na realidade uma dissidência do Olodum. Completando o cardápio baiano, Gal gravou uma composição inédita de Carlinhos Brown, "Zanzando", então um compositor pouco conhecido, mas que já tinha emplacado pelo menos dois sucessos: "Remexer", gravada por Elba Ramalho em 1986, e principalmente "Meia lua inteira", gravada por Caetano Veloso também em 1990. Porém, a perestroika proposta por Waly para Gal não incluiu apenas música baiana. No cardápio de "Plural" temos também o pop de Marina Lima ("Eu acredito"), a poesia concreta de Arnaldo Antunes mesclada ao suingue de Jorge Benjor, na inusitada "Cabelo", a mistura das poesias de Waly e Antônio Cícero com a musicalidade marcante de João Bosco na agressiva "Holofotes", e claro, Caetano Veloso, compositor mais gravado por Gal, em "A verdadeira baiana" e "Nua idéia", parceria com o maestro João Donato. A regravação de um samba de João de Barro, gravado por Carmen Miranda e Sílvio Caldas, num dueto entre homem e mulher, mas que Gal, ícone da revolução sexual brasileira, faz as duas partes. Dois standards norte americanos, "Begin the beguine" e "I didn't know what time it was". Porém, o grande sucesso do disco foi justamente a gravação de um sucesso nacional do cantor Anísio Silva, "Alguém me disse", que incluída na trilha sonora da novela "Tieta" tornou-se um grande sucesso de execução em rádios.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito bem lembrado,nessa época o axé era uma expressão musical fortíssima,pena que se diluiu.