segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

1971 - Fa-Tal / Gal a Todo Vapor (álbum)

Por Doug Carvalho, Tiago Marques e Fábio Coutinho

"Fa-Tal - Gal a Todo Vapor" é até hoje considerado o melhor disco da carreira de Gal Costa pela crítica. Representa o amadurecimento interpretativo da cantora, tanto nos rocks de influência tropicalista, como nos sambas e bossas. Foi gravado ao vivo, resultado do show "Gal a Todo Vapor", dirigido e conceituado por Waly Salomão e com arranjos de Lanny Gordin, um dos guitarristas mais emblemáticos da música brasileira. Quando gravado, Gal era a musa da turma que freqüentava o Pier de Ipanema, na altura da Farme do Amoedo, e que as escavações das obras do emissário submarino formavam grandes dunas na faixa de areia, e que foram batizadas de "Dunas do Barato" ou "Dunas da Gal", numa época em que a artista freqüentava locais públicos com bastante desenvoltura... Se a sofisticação do estilo de Gal Costa em fins da década de 70 a tornou uma grande estrela, mais popular, com "Fa Tal", Gal Costa se tornou definitivamente a musa alternativa brasileira, numa época em que a MPB era dividida entre a MPB elitista de nomes como Elis Regina, Edu Lobo e Dori Caymmi, e a música dita na época como de baixa qualidade, de nomes mais ou menos diversos, como Waldick Soriano e mesmo os jovem-guardistas, como Roberto Carlos, que ainda engatinhava o prestígio que iria adquirir aos poucos, sendo mesmo incorporado ao repertório da mais radical das representantes do primeiro grupo, a cantora Elis Regina. Gal Costa não era, nessa época, nem uma coisa nem outra: era a musa da contracultura no Brasil, dos hippies, dos modernos, dos intelectuais, e a grande precursora do estilo de cantoras como Cássia Eller.
O disco foi lançado originalmente como álbum duplo, um dos primeiros lançados na MPB. No início da década de 80 foi relançado numa versão simplificada, de um único disco com parte do repertório, inclusive com a gravação de "Vapor barato"editada na metade da música para caber numa face de vinil com mais cinco faixas. O repertório:
A
1- Falsa baiana
2- Sua estupidez
3- Coração vagabundo
4- Hotel das estrelas
5-Como 2 e 2
B
1- Antonico
2- Dê um rolê
3- Fruta gogóia / Vapor barato
4- Assum preto
5- Bota a mão nas cadeiras

Ao ser lançado em CD a ordem dos discos foi alterada, ficando o disco 2 na frente, e iniciando-se o CD com "Fruta gogóia" e finalizando com "Luz do sol", uma edição que repete a ordem original do show, mas que acaba com o clímax final original do vinil, com a arrebatadora interpretação de Gal para "Vapor barato", numa emocionante e técnica seqüência de agudos. Essa música, inclusive é emblemática, hino dos anos de chumbo em que o Brasil se encontrava, com o AI-5 vigorando com força total, presos políticos e torturas, artistas importantes exilados, como Caetano, Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Nara Leão. Uma grande canção que fala de partida, mas com um sentimento de esperança do retorno. Essa música foi tema do filme "Terra Estrangeira", lançado na década de 90, e foi regravada com sucesso e interpretação bastante diferente da de Gal pelo grupo O Rappa. Também é responsável indireta pelo reconhecimento de Zeca Baleiro, que usou a gravação de Gal Costa como sampler na sua composição "À Flor da Pele", de seu primeiro CD, canção, que segundo Gal Costa, emocoinou-a muitíssimo e motivou o seu convite para que Zeca a acompanhasse na regravação da canção no seu CD "Acústico MTv", em 1997. Mas uma coisa que pouca gente sabe, é que a gravação do disco "Fa Tal" não é a primeira, mas sim a segunda. Essa música na realidade foi lançada por Gal Costa em compacto meses antes, em gravação de estúdio em com arranjo totalmente diferente. Outra curiosidade do disco, é que aqui se inicia a carreira de um dos maiores compositores e intérpretes da MPB: Luiz Melodia. "Pérola Negra" foi sua primeira composição gravada, sugestão de Waly Salomão que o conhecera primeiro e que apresentou o compositor para Gal Costa, que tornou-se assim a madrinha artística de Melodia.

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