Neste texto, do Correio da Bahia, trechos relatando a importância do Teatro 'Vila Velha' na carreira de Gal, e fazendo isso, eles intercalam matérias de 1964, comentando sobre o início de sua carreira. Em destaque o show "Nós, Por Exemplo", confiram abaixo:
Teatro Vila Velha foi 'berço' de Caetano, Gil, Gal e Bethânia
Alexandre Lyrio | Redação CORREIOA balconista da mais cult loja de discos no Porto da Barra conhece a jovem secundarista do Colégio Severino Vieira, irmã do estudante de filosofia, mais tarde apresentado ao aluno de administração. Ainda iniciantes na vida e no gosto pela música, defrontam-se com árdua tarefa. Devem suprir a lacuna deixada por uma peça teatral, do aclamado dramaturgo paulista Gianfrancesco Guarnieri, não concluída na data marcada para a estreia.
É a semana de inauguração do Teatro Vila Velha, em agosto de 1964, e o novo espetáculo, arrumado às pressas, tem nome atrevido para um grupo de artistas apenas promissores.
A peça-concerto Nós, por exemplo é o início de tudo. A primeira vez que Gal Costa, a vendedora de vinis; Gilberto Gil, o aspirante a administrador; Caetano Veloso, o quase filósofo; e Maria Bethânia, a estudante de segundo grau, sobem ao palco juntos.
Ofusca as outras apresentações da semana comemorativa. “Convidamos os parentes mais próximos, primos e irmãos, na tentativa de engrossar a plateia. O que apresentaríamos em apenas um dia durou uma semana inteira. O negócio pegou mesmo”, testemunha um dos diretores do espetáculo na época, o produtor musical Roberto Santana.
Dali pra frente, os quatro se destacariam em carreiras individuais, mas nunca perderiam a ligação quase sobrenatural, com ascendência no teatro mais charmoso da Bahia.
O próprio Caetano, em seu livro Verdade tropical (1997), confessa: “Nunca foi, em nenhum nível, obscuro pra mim que o grupo coeso ao qual eu pertencia era formado por nós quatro, acontecesse o que acontecesse. Eu sentia assim desde o Teatro Vila Velha (...)”.
E completa. “A visão que eu tinha da unidade de destino de nós quatro, a certeza de que éramos companheiros num nível de luta que os outros não conheceriam, destacava o quarteto (...)”.
Antes, não passavam de meros estudantes, jovens apreciadores da boa música. Recém-chegados de Santo Amaro, Caetano e Bethânia foram chamados a fazer parte de um grupo de pesquisa sobre Bossa Nova e outras tendências, idealizado por Santana.
É ele quem os apresenta a Gil, Gal, Tom Zé e Lona, além do artista plástico Emanoel Araújo e as atrizes Conceição Nunes e Maria Moniz. Discute-se João Gilberto, Valter Santos e Carlos Lira.
O repertório de Nós, por exemplo não fugiria muito disso. O próprio cartaz do espetáculo vem grafado: “Show de Bossa Nova”. Mas também há a influência de Dorival Caymmi, Dalva de Oliveira, Pixinguinha e Luiz Gonzaga.
O sucesso seria tanto que, no mês seguinte, Nós, por exemplo ganharia a versão nº 2. E não seria a última. Entre 21 e 23 de novembro de 64, Gil, Caetano, Gal e Bethânia convocaram os demais para novo espetáculo no Vila: Nova Bossa Velha e Velha Bossa Nova repete o êxito e impulsiona a carreira dos idealizadores do futuro Tropicalismo (movimento que não contou com Bethânia).
Ao longo do tempo, todos voltariam a cantar no velho teatro. Caetano faria uma das suas reinaugurações. Bethânia traria do Rio o aclamado espetáculo Opinião, no início dos anos 70. Gil e Bethânia também subiriam várias vezes naquele palco.
“O mais engraçado é que no início ninguém queria ser profissional da música. Nenhum deles”, assegura Roberto Santana. Mas, como aconteceu com muitos outros artistas, o Vila mudou a história dos quatro.
Um comentário:
Há quem jure de pés juntos que Bethânia fez parte do movimento ''Tropicália''.
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