Gal Costa e Caetano Veloso - Domingo
Universal / 1967
(LP/1967), (CD/1989)
Lado A
1 Coração vagabundo (Caetano Veloso) - Gal e Caetano
2 Onde eu nasci passa um rio (Caetano Veloso) - Caetano
3 Avarandado (Caetano Veloso) - Gal
4 Um dia (Caetano Veloso) - Caetano
5 Domingo (Caetano Veloso) - Gal e Caetano
6 Nenhuma dor (Caetano Veloso) - Gal
Lado B
1 Candeias (Edu Lobo) - Gal
2 Remelexo (Caetano Veloso) - Caetano
3 Minha senhora (Gilberto Gil - Torquato Neto) - Gal
4 Quem me dera (Caetano Veloso) - Caetano
5 Maria Joana (Sidney Miller) - Gal
6 Zabelê (Gilberto Gil - Torquato Neto) - Gal e Caetano
LETRAS:
Coração vagabundo
(Caetano Veloso)
com Caetano Veloso
Meu coração não se cansa de ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos sem dizer adeus
E fez dos olhos meus um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim.
Avarandado
(Caetano Veloso)
Cada Palmeira na estrada
Tem uma moça recostada
Uma é minha namorada
E essa estrada vai dar no mar
Cada palma enluarada
Tem que estar quieta, parada
Qualquer canção, quase nada
Vai fazer o dia nascer
Vai fazer o sol levantar
Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer.
Domingo
(Caetano Veloso)
com Caetano Veloso
Roda, toda gente roda
Ao redor desta tarde
Esta praça é formosa
E a rosa pousada no meio da roda
No meio da tarde de um imenso jardim
Rosa não espera por mim
Rosa menina pousada não espera por nada
Não espera por mim
Roda, toda gente roda
Ao redor desta praça
Esta tarde está morta
E a rosa coitada na praça e na porta
Na sala, na tarde do mesmo jardim
Que dia espera por mim
Nova, perdida, calada
Não há madrugada esperando por mim
Nova, perdida, calada
Não há madrugada esperando por mim.
Nenhuma dor
(Caetano Veloso)
Minha namorada tem segredos
Tem nos olhos mil brinquedos
De magoar o meu amor
Minha namorada muito amada
Não entende quase nada
Nunca vem de madrugada
Procurar por onde estou
É preciso, ó doce namorada
Seguirmos firmes na estrada
Que leva a nenhuma dor
Minha doce, triste namorada
Minha amada, idolatrada
Salve, salve o nosso amor.
Candeias
(Edu Lobo)
Ainda hoje vou-me embora pra Candeias
Ainda hoje meu amor eu vou voltar
Da terra nova nem saudades vou levando
Pelo contrário, pouca história pra contar
Quero ver a lua vindo por detrás da samambaia
Rede de palha se abrindo
Em cada palmo de praia
Quero ver a lua branca clareando como um dia
E nos seus olhos de espanto
Tudo quanto eu mais queria
Ainda hoje vou me embora pra Candeias
Ainda hoje meu amor eu vou voltar
Da terra nova nem saudades vou levando
Pelo contrário, pouca história pra contar
E nas sombras lá de longe, lá onde o céu principia
Quero ver mestre proeiro no remo e na valentia
Procissão de velas brancas no sentido da Bahia
Procissão de velas brancas no sentido da Bahia
Da Bahia.
Minha senhora
(Gilberto Gil – Torquato Neto)
Minha senhora, onde é que você mora?
Em que parte desse mundo?
Em que cidade escondida?
Dizei-me que sem demora lá também quero morar
Onde fica essa morada?
Em que reino, qual parada?
Dizei-me por qual estrada é que eu devo caminhar
Minha senhora, onde é que você mora?
Venho da beira da praia
Tantas prendas que eu lhe trago
Pulseira, sandália e saia
Sem saber como entregar
Quero chegar sem demora
Nessa cidade encantada
Dizei-me logo senhora
Que essa chegança me agrada
Dizei-me logo senhora
Que essa chegança me agrada
Dizei-me logo senhora
Que essa chegança me agrada.
Maria Joana
(Sidney Miller)
Não faz feitiço quem não tem um terreiro
Nem batucada quem não tem um pandeiro
Não vive bem quem nunca teve dinheiro
Nem tem casa pra morar
Não cai na roda quem tem perna bamba
Não é de nada quem não é de samba
Não tem valor quem vive de muamba
Pra não ter que trabalhar
Eu vou procurar um jeito de não padecer
Porque eu não vou deixar a vida sem viver
Mas acontece que a Maria Joana
Acha que é pobre, mas nasceu pra bacana
Mora comigo, mesmo assim não me engana
Ela pensa em me deixar
Já decidiu que vai vencer na vida
Saiu de casa toda colorida
Levou dinheiro pra comprar comida
Mas não sei se vai voltar
Eu vou perguntar: Joana, o que aconteceu?
Dinheiro não faz você mais rica do que eu.
Zabelê
(Gilberto Gil – Torquato Neto)
com Caetano Veloso
Minha sabiá, minha zabelê
Toda meia noite eu sonho com você
Se você duvida, eu vou sonhar pra você ver
Minha sabiá, vem me dizer, por favor
O quanto que eu devo amar
Pra nunca morrer de amor
Minha sabiá, vem me dizer, por favor
O quanto que eu devo amar
Pra nunca morrer de amor
Minha zabelê, vem correndo me dizer
Porquê sonho toda noite
E sonho só com você
Se você não me acredita, vem pra cá
Vou te mostrar
Que riso largo é o meu sono
Quando sonho com você
Mas anda logo
Vem que a noite já não tarda a chegar
Vem correndo pro meu sono escutar
Que eu sonho falando alto
Com você no meu sonhar
Minha sabiá, minha zabelê
Toda meia noite eu sonho com você
Se você duvida eu vou sonhar pra você ver.
FICHA TÉCNICA:
Produção: Dori Caymmi
Arranjos: Roberto Menescal, Francis Hime e Dori Caymmi
RELEASE:
I
Gal participa dessa qualidade misteriosa que habita os raros grandes cantores de samba: a capacidade de inovar, de violentar o gosto contemporâneo, lançando o samba para o futuro, com a espontaneidade de quem relembra velhas musiquinhas. Por isto eu considero necessária a sua presença nesse disco em que se registra uma fase do meu trabalho em música popular, algumas das canções que eu fiz até agora. Por isso, e também porque desde a Bahia que nós cantamos juntos, desde lá que ela faz com que meus sambas existam de verdade. Não há defasagem de tempo entre a composição e o canto: cada interpretação sua tem a mesma idade da canção. Todas as minhas músicas que aparecem aqui foram feitas jnto dela e um pouco por ela também. Ouso considerá-la como parte integrante do meu processo de criação: este é um disco de "Gal interpretando Caetano" mesmo nas faixas em que ela canta músicas de outros autores ou quando sou eu mesmo quem canta as minhas. Gal cantando o que quer que ela goste, isso já é minha música, e quando eu canto ela está presente. O seu canto (como o de Gil ou o de Bethânia) tem sido sempre meu parceiro.
II
Eu gosto muito de cantar. Mas jamais consegui gostar muito de cantar as minhas composições. Um velho baião, uma canção antiga, o último samba de um amigo, isso é bom de cantar: u'a música que eu mesmo tenha inventado me parece informe pela proximidade e eu desconfio de tudo que escrevi. Neste disco estou enfrentando uma experiência nova: ouço essas coisas que fiz transformadas em música por Dori, Menescal e Francis e procuro amá-las despreocupadamente, tento aceitá-las como prontas (não há mais como compô-las): cantar as músicas que eles me devolveram, não aquilo que eu lhes dei.
III
Acho que cheguei a gostar de cantar essas músicas porque minha inspiração está tendendo para caminhos muito diferentes dos que segui até aqui. Algumas canções deste disco são recentes ("Um dia", por exemplo), mas eu já posso vê-las todas de uma distância que permite simplesmente gostar ou não gostar, como de qualquer canção. A minha inspiração não quer mais viver apenas da nostalgia de tempos e lugares, ao contrário, quer incorporar essa saudade num projeto de futuro. Aqui está - acredito que gravei esse disco na hora certa: minha inquietude de agora me põe mais à vontade diante do que já fiz e não tenho vergonha de nenhuma palavra, de nenhuma nota. Quero apenas poder dizer tranqüilamente que o risco de beleza que este disco possa correr se deve a Gal, Dori, Francis, Edu Lobo, Menescal, Sidney Miller, Gil, Torquato, Célio, e também, mais longe, a Duda, a seu Zezinho Veloso, a Hercília, a Chico Mota, às meninas de Dona Morena, a Dó, a Nossa Senhora da Purificação e a Lambreta.
Caetano Veloso
Créditos: Discografia disponibilizada por Doug Carvalho
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