segunda-feira, 30 de novembro de 2009

1965 - Show: Arena Canta Bahia

1965 - Espetáculo: Arena Canta Bahia
Por Douglas Carvalho

Teatro de Arena, São Paulo, 26 de setembro de 1965
Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Tom Zé, Piti

Tom Zé, Bethânia, Boal, Gal, Piti, Gilberto, Macalé, Caetano

Dirigido por Augusto Boal, esse foi o primeiro espetáculo em que Gal Costa se apresentou ao público do "Sul Maravilha". Baseava-se num mix do espetáculo anterior do diretor, o elogiadíssimo "Arena Canta Zumbi" (de onde saíram dois clássicos do repertório de Elis Regina, "Zambi" e "Upa neguinho") e dos shows caseiros do Teatro Vila Velha, este espetáculo trazia algumas canções de Gil e Caetano, porém para os baianos, tinham muito pouco a ver com suas propostas musicais. Buscando uma imagem sertaneja que "mobilizasse platéias engajadas", Boal criou uma Bahia irreal, excessivamente nordestina, que diferia demais do que os baianos do recôncavo como Bethânia, Caetano e Gal, a única que sempre vivera em Salvador, entendiam por Bahia (e certamente eles entendiam muito mais que Boal!). Temas sociais como pobreza, seca e divisão de terras refletiam a visão de Boal (uma visão distorcida que ainda hoje se repete em programas televisivos) da Bahia, e esse estranhamento criou um clima de permanente incomodo nos atores/cantores do espetáculo. Um dos pontos chaves desse estranhamento, principalmente para Caetano Veloso, era o fato de num espetáculo de e sobre a Bahia não haver sequer uma música de Dorival Caymmi, terminantemente rechaçado por Augusto Boal, que achava as canções do mestre baiano excessivamente doces, comprometendo a "mensagem" de "seu" espetáculo. Para Gal especificamente, tímida como ela era, o show era uma tortura por exigir dela mais que seu canto intimista, sendo solicitado dela gestos fortes e expressivos que sua amiga Bethânia, então já famosa em todo o Brasil, e estrela central do show, possuía naturalmente, mas que ela nunca sonharia em ter. O show, frustrando as espectativas de Boal (mas não de Caetano), não fez o mesmo sucesso do "Canta Zumbi", e terminada a temporada, o compositor voltou para  Bahia, sequer participando de "Tempo de Guerra", o espetáculo seguinte de Boal com os baianos. Em "Arena Canta Bahia", além do elenco de artista advindos da Bahia, brilhava no violão o gênio maldito, ainda desconhecido do público, Jards Macalé.

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